quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre sutiãs e outras histórias.

Assumir é sempre o primeiro passo. Tá certo que algumas coisas são vergonhosas demais para assumir publicamente, mas assumir pra si mesmo e aceitar algumas limitações é essencial.

Essa é mais uma das teorias que criei no verão de 2008, quando me isolei da sociedade por dois meses em uma cidade no interior do interior do Paraná. Pra dizer bem a verdade, não é nem cidade, é distrito, mas isso não vem ao caso agora. Nesta época, iniciei um processo de reconstrução do ego que acredito ter encerrado há poucos meses.

Engraçado que só saímos do comodismo quando tomamos uma facada da vida. Há quatro anos, em novembro de 2008, tomei o que considero os dois golpes mais violentos até hoje: o término de um relacionamento de dois anos e meio e minha mãe me mandando embora de casa porque achou uma cueca usada no carro (que na verdade era uma calcinha de uma amiga que tinha tomado banho na minha casa, mas minha mãe achou que era cueca). Hoje as histórias são de rir, mas na época eu não soube como lidar com tudo isso. Resolvi que não podia mais ficar em Campo Grande, precisava de paz, calma e tempo. Quando a vida te dá um caldo, o melhor a fazer é ficar quietinha, esperar chegar ao fundo do mar (até pisar na areia), esperar a onda passar e só depois tomar impulso para voltar à superfície. Foi isso que eu fiz. Sem internet, celular ou qualquer outro tipo de comunicação, entrei em mim. Horas e mais horas de meditação no único banco da praça. Tudo o que eu conhecia estava prestes a mudar completamente e eu preocupada com meu noivado que havia fracassado. A vida é deveras engraçada.

Nesses dois meses de reclusão, consegui me olhar no espelho a primeira vez desde junho de 2006. Assustei ao ver como eu tinha engordado e envelhecido, estava em uma situação deplorável. Eu me enxerguei, pela primeira vez, depois de dois anos e meio. Eu me toquei, pela primeira vez, em dois anos e meio. Eu me senti viva pela primeira vez desde que me entendo por gente.

Voltei forte, cheia de mim, com energia para recomeçar. Tudo isso durou só até eu pisar na rodoviária de Campo Grande. Chegando aqui, meu mundo desabou de novo, deparei-me com minha mãe louquíssima do cu me mandando embora de casa e com meu relacionamento falido. Foi então que comecei aceitar alguns fatos para facilitar a vida:
  • Meu noivado realmente havia acabado. Ele estava com outra e se mostrava muito feliz, então eu precisava seguir em frente;
  • Minha mãe não me queria por perto. Ela deve ter seus motivos para não me amar como uma mãe deve;
  • A vida adulta tinha chegado e estava batendo na minha porta;
  • Eu estava sozinha e precisava fazer alguma coisa.
Admitir que eu estava sozinha foi muito dolorido, mas realmente necessário. "Ok, até aqui eu fiz o que me mandaram, de agora em diante eu faço o que eu julgar melhor pra minha vida". Foi então que comecei me reconstruir, ir aonde eu queria, escutar o que eu gostava, agir conforme meus conceitos e fazer só o que achava certo. Não posso dizer que as coisas ficaram mais fáceis (elas nunca são fáceis), mas ficaram mais leves. É muito difícil se assumir como ser independente: sem mãe, sem deus, sem mestres. VOCÊ É O ÚNICO RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES, PELA SUA FELICIDADE OU INFELICIDADE. O fardo de permanecer por este mundo tornou-se menos sofrível, mas com muito mais responsabilidade.

E hoje fui comprar sutiãs. Assumir que meu corpo é deformado me custou muito. Mas hoje, saber que eu só posso usar um tipo X de sutiã, Y de calcinha e Z de roupa fez com que a tarefa de me vestir ficasse mais leve, apesar do meu peso. Estou ficando boa nessa arte, provei só dois até achar o ideal.


"Sou só eu e a vida. Olhei para ela e disse: 'termine de me destruir, já estou pronta'. Ela fugiu. A mim ninguém mais pode destruir ou machucar. Todas essas marcas no meu corpo e, principalmente na minha alma, me recordam quem eu sou: Ave Fênix, renascida diversas vezes de minhas cinzas".

Heleninha.

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